O Jogo

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Encapsulado - O Jogo - 2010

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Instalação: Caminhas do Torrado II - madeira de jaqueira encontrada morta na Região de Feira de Santana.
INSTALAÇÃO: Caminhos do Torrado - Ferro, vidro, fotos, argila do Torrado, sal grosso, carvão, água e madeira
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Herivelton Figuerêdo

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A Arte Pós-Contemporânea

Um silêncio se insinua no mundo, um silêncio atual, abrangente, que vai da reflexão criativa à prática ampliada da Arte com base na convergência de linguagens, tecnologias, participação interativa e deslocamento. Passa o barulho dos “movimentos” mas muitos ainda não deram conta disso. (Penso em Leonardo nas suas noites de solidão, debruçado em cadernos e pensamentos, sem sono, sem o aparelho Prestobarba da Gillette para se barbear, sem máquina fotográfica digital, sem celular, sem computador ou filmadora), um silêncio acompanhado do ar da noite que entra pela janela do meu quarto nesta madrugada, um ar de agora que também se insinua e que me traz arte ao pensamento, que me desloca do passado ao futuro, me movimenta no tempo e no espaço, arrancando raizes que me prendem ao chão e me faz “homem do mundo” pisando a terra de ninguém, um ar que me enche de desejos e dúvidas, que amplia a minha consciência, que me enche de idéias e indagações:Qual o futuro da Arte Contemporânea? Ela já se encerrou? O que é Arte Pós-Contemporânea ou Arte Atual? O que gera essa necessidade de mudança? Qual a relação do artista hoje com a arte e com o mundo? Qual a forma de viver no mundo atual e qual a relação disso com a arte? De que forma a vida atual influencia a Arte? Quais eventos estão a determinar a mudança na Arte Contemporânea, estabelecendo a Arte Pós-Contemporânea ou Arte Atual? Que linguagem o deslocamento do silêncio desta madrugada vem me apresentar, anunciando e antecipando encontros ? Como anda a minha consciência, a respeito da arte, do mundo e da minha própria vida? Para onde podem confluir os meus pensamentos?Estou quebrando copos de vidro em uma sala toda branca, um cubo branco internamente, destruindo templos, conquistando espaços até então desconhecidos. Sou um homem esmagado pelo mundo. Sou um coração, estou num corredor de paredes de vidro cobertas de tinta, fotografias e objetos descartados pela sociedade. Sou uma certeza interior, esta certeza que me impulsionou a aprofundar na arte durante toda a vida e que me faz ver que ainda preciso continuar caminhando. Ainda assim, os olhares (os olhares do mundo) me lembram Nietzsche diante da reflexão sobre a violência, não a “violência essencial da natureza” cujo ar de agora é resultante da inércia fenomenal que me joga no mundo e me esmaga pela força contra a película do futuro, mas uma violência silenciosa que gera o esquecimento do ser e morte. “Nós precisamos da arte para não morrer de verdade” é o que Nietzsche me diz, quase gritando, agitando o seu farto bigode. O mundo me esmaga e a arte me salva, faz o coração bater mais forte, até o fim da travessia, para romper a película e chegar ao outro lado. Me faz viver pela arte. O mundo me esmaga e coloca tudo em ordem, uma ordem dentro da desordem do esmagamento, me lança num vazio, como agora, me faz querer viajar para também “não morrer de verdade”, me faz navegar na escuridão em um barco cheio de “mestres e heróis”. Não há barcos que aportem alí, portanto não há heróis, o que há é um silêncio que se insinua no mundo, um silêncio na escuridão e uma fina lanterna na mão. Não é como se Nietzsche dissesse um poema de Rimbaud para Jim Morrison cantar: “Je suis le savant” [eu sou o sábio]. Repito: “Nós precisamos da arte para não morrer de verdade.” “Je suis le piéton de la grand’ route “ [Eu sou o andarilho na estrada], nem como se o “gênio da raça” acordasse às cinco horas da manhã para inventar uma metralhadora giratória, ou simplesmente dissecar um cadáver para contar os nervos que atravessam e movimentam o braço do homem. “Je suis le saint” [Eu sou o santo]. Faço corações de argila para implantar em Sartre, em Nietzsche, em Leonardo, em Cora Coralina e em tantos outros que estão com o peito aberto e um lápis na mão. Estou só no barco, mas “Nós precisamos da arte para não morrer de verdade”, precisamos de gente a nos dizer isto todos os dias para alimentar a nossa certeza interior, a nossa consciência, a nossa vontade de avançar, e não permitir o esquecimento do ser. Sou um homem esmagado pelo mundo, é verdade, “Je suis le savant”, sou um coração e um cérebro dentro de uma caixa de vidro, um ser, sou o vapor que condensa em uma placa de vidro na cara da sociedade e se esvai, levando o barco na escuridão da madrugada quente, com o nome “Liberté”. “Je ne suis pas le saint” na clausura. [Eu não sou o santo na clausura] .Em certas épocas algo acontece no mundo e provoca uma mudança geral, na vida e na arte, algo inevitável e transformador, algo que faz o artista pensar e dar um passo adiante em seu trabalho e na arte como um todo, transformando quase tudo que estava em vigor. Mas é veerdade: só o tempo dirá o que ficará como herança, o que ficará verdadeiramente marcado na memória da humanidade. É isto que estou tentando entender melhor, para ampliar a minha consciência enquanto artista, assumir a minha responsabilidade dentro das preocupações universais, me permitir toda a liberdade e força de expressão, viajar para os quatro cantos do mundo, enxergar na escuridão e na luz, ser universal. Com uma cabeça aberta e plugada, novos meios, novas idéias, o artista passou pela fronteira de um fim de século e de um milênio recentemente, subverteu, de um lado, o conceito da arte a partir dos anos 60 e 70 do século XX, criou a Arte contemporânea, uma arte que veio acabar com os limites entre tradição e vanguardismo. Findou-se aí a Arte Moderna e instalou-se definitivamente a Arte Contemporânea. Agora, do outro lado da fronteira, no início do século XXI, já findando a primeira década deste século, o artista começa a fazer uma arte que aqui vamos chamar de Arte Pós-contemporânea ou Arte Atual.O mundo agora passa por uma outra mudança e o tempo parece ainda mais acelerado. A vida parece estar por um fio. O que esperar da Arte do século 21?Considero o Artista Atual privilegiado por inaugurar o terceiro milênio depois de Cristo. É um momento espetacular! O clima é de muita expectativa e de reflexão sobre o bem e o mal. (Nietzsche parece que não morreu). O mundo não acabou, como foi anunciado. A Arte não morreu. Não buscamos mais dominar a técnica e nem nos posicionarmos à frente do progresso tecnológico(isto já aconteceu); Não buscamos mais a novidade nem a surpresa, e muito menos a ilusão. Já criticamos os governos, os militares, a sociedade, a imagem, e até a própria arte; Já exigimos do espectador a sua participação na arte e o seu olhar pensante; Já penetramos nas questões psicológicas do ser humano; Reprocessamos linguagens e poéticas artísticas, inventamos, discutimos a matéria e o suporte; Negamos tudo, até a existência do trabalho de arte; Fizemos projetos e registramos idéias, apenas, como forma de expressão; Empregamos diversos pontos de vista, uma outra perspectiva; Deixamos de ser regionais para sermos universais; Exploramos ao máximo a emoção e o sentimento; Discutimos as estratégias sociais e pregamos a autonomia da arte; Oferecemos ao público muito o que pensar e nos oferecemos também em corpo e alma; Entramos na era da virtualidade, da efemeridade. E agora?Novamente tenho aquela sensação de estar navegando na escuridão. O silêncio mais uma vez se insinua no mundo e sua insinuação aponta outra camada que está por trás da aparência do mundo, da película contra a qual novamente me sinto esmagado. Recorro a Rimbaud: “Je suis le savant” [Eu sou o sábio]. E novamente entro no barco e sigo até o outro lado, em meio à névoa branca, mas agora embarcam comigo José Saramago, com seus óculos enormes e sombrançelhas levantadas, Rimbaud, Nietzsche e Rilke; Nem santos, nem heróis e nem demônios. “Nós precisamos da arte para não morrer de verdade”. E em meio ao vapor da noite quente, escorrendo dentro da caixa de vidro como se fosse a “cegueira branca” do Saramago, ouvimos uma voz se levantar: “As obras de arte nascem sempre de quem afrontou o perigo, de quem foi até o extremo de uma experiência, até o ponto que nenhum ser humano pode ultrapassar”. Era Rilke, todo molhado de suor. E assim senti o mundo me esmagando com a sua força brutal, pensei: Que sentimento é este que surge para me arrancar os olhos e me jogar num mar branco, para me expulsar do tempo e do espaço, me lançando em um mundo desconhecido, sem medo, como uma provação? O mundo não é mais o mesmo. Nós não somos mais os mesmos. É como dizia Félix Guattari: “A única finalidade aceitável das atividades humanas é a produção de uma subjetividade auto-enriquecendo de modo contínuo sua relação com o mundo.”Então, digamos assim, o Artista Atual vai estabelecendo o deslocamento, a movimentação e a relação entre arte, vida, natureza e política, como forma de expressão e de poética do sentir no espaço e no tempo presente, estabelecendo as relações da Arte com o mundo online, ao vivo, atual. O “aqui agora”, enquanto tudo isto não acabe. O artista agora se dirige ao público e diz: Este é o seu mundo. Esta é a sua vida. Esta é a sua Arte. Cuide dela. Ele oferece, para cada pessoa do universo, a oportunidade da relação pessoal, a oportunidade da experimentação ao vivo, real e concreta, a oportunidade de entrar na relação universal no contexto de eternidade e de infinito, a oportunidade de compreender que a locaclização espacial é apenas uma questão de percepção. E eu pergunto: Qual a sua percepção da História da Arte? Da sua percepção dependerá a sua capacidade de fazer arte hoje, é ela que irá determinar a relação do seu trabalho de arte com a noção do seu próprio tempo e com o infinito. Entender isto e tornar uma prática em sua vida é fundamental para o Artista que quer ser Atual. A ciência védica nos diz que o núcleo da nossa consciência é o centro de todo espaço e de todo tempo.






























quarta-feira, 27 de janeiro de 2010